Data: 17/02/2020
Por: Aline Assafin Zille
Editoria: Notícias
Valeria Paschoal é membro da Igreja Messiânica Mundial do Brasil há dois anos e apoiadora do Setor de Alimentação Natural da Fundação Mokiti Okada.
Em sua conversa, ela mostra como a Agricultura Natural entrou em sua vida e como leva esse assunto à comunidade carente e à sociedade.
Com trinta e cinco anos de formação em Nutrição, há vinte se identificou com os princípios de Meishu-Sama. Na Igreja Messiânica, encontrou os estímulos e o direcionamento de que faltava para transformar, de forma harmônica e coerente, sua empresa.
Atualmente, ela aponta que é grande a responsabilidade dos messiânicos com a prática da Agricultura Natural como coluna de salvação. "Urge a mudança na alimentação e o aumento da consciência sobre o assunto", pondera ela.
Consumir e indicar produtos cultivados, no mínimo, de forma orgânica, e fazer práticas que envolvam a Agricultura Natural também deve ser um exercício dos nutricionistas, que têm no alimento sua principal ferramenta de trabalho.
A cultura da valorização do cultivo orgânico e natural traz inúmeros benefícios, uma vez que existe uma energia nesse processo. Quando o alimento é produzido por um agricultor, que se sente valorizado, ele sente gratidão e, por essa razão, o alimento vem rico em energia vital.
Horta Caseira
A prática da horta caseira mudou a vida de jovens de um projeto, na comunidade Jardim Europa, em Bauru (SP), para onde, há oito anos, Valéria levou essa prática. O envolvimento dos jovens, que eram dependentes de drogas, fez com que eles mudassem de hábitos: "Com as tarefas que recebiam, eles não podiam ficar só nas drogas; ganharam vida cuidando da vida existente no solo", relembra.
Outra área de interesse de Valéria é a divulgação das PANCs - Plantas Alimentícias Não Convencionais. Ela visita diversos assentamentos para orientar sobre o assunto: "Elas são altamente sustentáveis e resilientes. Há espécies que ficam até um ano sem água. Por serem tão resistentes, produzem muito mais fitoquímicos", observa ela.
Esses alimentos são capazes de neutralizar doenças ligadas a inflamações. Ter uma alimentação rica em fitoquímicos diminui em 70% a expressão de doenças deste tipo."A mudança dessa realidade epidêmica, com tantas doenças que estamos vivenciando, com certeza começa pelo ato de se alimentar", afirma.
É igualmente importante resgatar o paladar natural e valorizar os alimentos plantados com amor, pois são plenos de energia vital. Essa prática ajuda a diminuir o impacto ambiental, abre as portas para o desenvolvimento econômico e gera renda para os pequenos agricultores, diminuindo o impacto na natureza.
Valéria afirma que "o agricultor não pode ir à feira para vender seus produtos e correr o risco de não vendê-los". Ela menciona o projeto CSA (Comunidade que Sustenta a Agricultura), que é uma iniciativa que começou em 1970, no Japão, com duas senhoras que atentaram para o princípio regenerativo dos alimentos, tendo como princípio o respeito ao agricultor. Em 1990, esse movimento invadiu a Europa, a partir da Alemanha e, ainda nessa década, se desenvolveu nos Estados Unidos.
Há oito anos, a CSA chegou ao Brasil. Valéria destaca a CSA São José, em São José do Rio Preto/SP, desenvolvida por messiânicos e agricultores. "Nesses últimos anos, alimento-me de alimentos com amor na produção; eles mudaram a minha vida, fazendo-me sentir com mais vitalidade e energia. Tenho menos rugas e celulite. Contudo, a maior transformação foi no meu sentimento", observa.
A Agricultura Natural e a microbiota
Valéria aponta que a pureza do solo apresenta uma microbiota (o conjunto dos microrganismos que habitam um ecossistema) muito mais adequada à microbiota intestinal humana.
"O que me move são o propósito e a crença de que a Agricultura Natural é fundamental para sermos mais evoluídos e, consequentemente, mais felizes", diz.
Por outro lado, ela afirma: "Não adianta só consumir alimento natural e não buscar tornar-se um ser humano cada vez melhor e atento aos demais." A parte espiritual da alimentação funcional é seu diferencial no mercado: "Para passar essa visão, você tem que viver isso no dia a dia. Minha missão é ensinar, em todos os lugares, a importância do propósito de vida", explica.
Que os agrotóxicos causam diversos males, a maioria já sabe. Contudo, é preciso aumentar o conhecimento sobre o lado positivo dos alimentos orgânicos e naturais, ainda considerados "mais caros" pela maioria da população.
Os defensivos químicos destroem os microrganismos e bactérias existentes no solo, acabando com sua microbiota, que é formada por bactérias e microrganismos que estão correlacionados com a microbiota do intestino do ser humano. Aliás, este é um dos órgãos do corpo humano que vem adoecendo de forma alarmante. Quando o intestino não está saudável, o cérebro também padece. O motivo é que várias doenças inflamatórias têm origem no intestino, que modula e produz muitos hormônios ligados às alterações cerebrais.
O uso cada vez maior de agrotóxicos causa muitas alterações. Então, deve-se pensar seriamente em como esses agrotóxicos agem dentro do organismo. É preciso fomentar conhecimentos, por meio de debates sobre este tema. Quantos de nós sabe que os agrotóxicos se fixam em tecidos gordurosos e dão origem às doenças neurodegenerativas? Eles irão causar inúmeros problemas e causar aumento das doenças de várias formas. Estudos comprovam isso.
Se o ser humano continuar ingerindo tantos alimentos contaminados, sofrerá para eliminar tantas impurezas. "É preciso fazer do organismo nosso templo", exalta a profissional.
Dicas para mudança
Valéria ressalta que diante da realidade conflituosa, quando a sociedade vive sob estresse, medos e preocupações, a responsabilidade da solução não está fora de nós mesmos. Ela diz que é preciso pensar em como contribuir para a mudança geral.
"Ao possuirmos uma partícula divina, Deus se divide entre nós e, consequentemente, nos torna agentes responsáveis pela concretização de Seu plano. E a transformação para isso ocorre dentro de cada um: desde pensar em qual alimento vamos colocar em nosso organismo, até passarmos a ter gratidão pelo processo de formação do alimento, para nos tornarmos entes celestiais", explica.
"Se não tivermos a mudança de uma atitude egoísta para altruísta, não haverá mudança na sociedade. Não pense em uma mudança logo no começo, mas em uma mudança simples, no dia a dia. O ato de se alimentar precisa ser diferente, especial, e ser fonte não apenas de nutrição, mas de reflexão: de onde vem esse alimento? Com qual sentimento estou colocando esse alimento em meu organismo? Isso vai reverberando em todo nosso trabalho, inspirando vizinhos e motivando a sociedade", sugere Valeria.
Para mudar hábitos da alimentação, é necessário observar a quantidade de resíduos presentes na lixeira em casa. Conforme Valéria, o primeiro passo é diminuir o lixo inorgânico e dar preferência ao consumo de alimentos orgânicos. "Comida de verdade não gera tanto lixo", completa.
O segundo passo é consumir produtos sem veneno. "Visitem as feiras agroecológicas, elas são menores, com produtos plantados por famílias de agricultores. Outra prática é a horta em pequenos espaços", o que incentiva o apoio aos pequenos produtores e a prática da horta caseira.
O terceiro aspecto é voltar a cozinhar a própria refeição. "Preparar o próprio alimento é colocar sua energia, seu amor, e isso alimenta a alma", afirma.
A transição do paladar e do hábito de consumo requer cuidados e atenção, mas deve ser gradativa. "Como messiânica e profissional da área de nutrição funcional, preciso compreender. Eu não gosto de julgar", diz. Ela deseja que os messiânicos pratiquem e sigam os Ensinamentos de Meishu Sama para difundir com maior fervor a missão da Agricultura Natural e a alimentação saudável.
"Quanto mais nos tornarmos praticantes da alimentação natural mais verdade a nossa prática de fé terá", exalta.
"Meu desejo é ampliar a verdade de Meishu-Sama. A mudança do planeta é um enorme desafio, mas temos que iniciar por nós. Vivemos em um mundo e, como habitantes dele, temos o compromisso de torná-lo o Paraíso Terrestre", observa.
Assim, ela convida os leitores da Revista Izunome a uma nova reflexão: é preciso acreditar que a missão do alimento vai além de nutrir as células - ele nutre a alma.